Jornal Gazeta do Povo - Caderno Meio Ambiente
Texto de Katia Brembatti
Canalizado em vários trechos e vítima do despejo de lixo e esgoto, o Rio Belém ainda atrai o olhar do curitibano
A ideia de que um rio pode ser interpretado como patrimônio cultural de
uma cidade permeia o projeto Retratos do Belém. Da nascente à foz, o
maior rio curitibano foi fotografado e filmado, com destaque para o
ambiente urbano que contorna o seu leito. A iniciativa, do arquiteto
Gabriel Gallarza, encontrou financiamento pela Fundação Cultural de
Curitiba e agora é semifinalista do prêmio de valorização dos recursos
hídricos promovido pela Agência Nacional de Águas (ANA).
A equipe multidisciplinar – formada por historiadores, videomaker,
atleta, jornalista, biólogo, geógrafo e urbanistas – buscou interpretar a
importância que o rio tem para a cidade. O resultado – em textos, fotos
e vídeos – pode ser conferido no endereço eletrônico
retratosdobelem.blogspot.com.br. O projeto é finalista também do prêmio
Rodrigo Melo Franco de Andrade, promovido pelo Instituto de Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
“Um rio não é apenas um patrimônio natural. É também uma
representação do modo de vida que está nas margens e contribui para o
sentido de identidade e pertencimento”, diz Gallarza. “Como fonte de
água para a população, o Rio Belém é um dos principais fatores que
levaram à instalação da cidade aqui, neste lugar”, complementa. Para o
arquiteto, a relação de identidade do curitibano com o Belém anda
enfraquecida. “É um rio que está bastante oculto. Que é lembrado somente
nos momentos de chuvas intensas, enchentes e pela poluição”, lamenta.
Nos 20 quilômetros de extensão – do limite com Almirante Tamandaré
até quase São José dos Pinhais – o rio passa por parques, como o Bosque
do Papa, o São Lourenço e o Passeio Público. Ele não tem mais o desenho
original: foi retificado para se “adequar” à arquitetura urbana, em
alguns pontos foi canalizado e há ainda dois quilômetros subterrâneos –
escondidos sob algumas das principais ruas centrais da cidade. “Foram
tirando dele a terra, o sol e, assim, foram tirando a vida do Belém”,
lamenta o arquiteto. Ressurge, a céu aberto, já próximo da
Rodoferroviária. Apesar do lixo e das descargas de esgoto, ainda há
peixes em um trecho do rio.
Gallarza acredita que o vínculo entre o rio e a população pode
estimular ações de preservação. “O que me deixa mais feliz é perceber
que o rio reage. Qualquer ação de melhoria gera resultados notáveis”,
comenta. Ele espera ver o Belém ser respeitado e nortear ações de
planejamento. “Hoje as canaletas de ônibus são consideradas no
zoneamento urbano. Os rios não têm a mesma atenção”, diz. Como
testemunha da história de desenvolvimento de Curitiba, o Belém deveria
ser credor de mais reconhecimento.
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