Texto de Marcelo Leite
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Quem passou nesta terça feira pelo Parque São Lourenço deve ter reparado na estranha presença de uma pessoa remando em um caique no meio do lago. Enquanto ela passeava protegida por uma roupa de borracha, máscara de gás e uma câmera filmadora na cabeça, um grupo de pessoas tirava fotos e fazia um piquinique tranquilamente às margens da represa do Rio Belém.
A ação faz parte do projeto “Retratos do Belém - A trajetória de um rio urbano”, desenvolvido pelos arquitetos urbanistas Gabriel Gallarza e Maria Baptista. Acompanhados por uma equipe de profissionais com diferentes formações (confira a equipe), a ideia deles é registrar a paisagem cultural, imaterial e material, que compõe o Rio Belém.
“Como a gente já vinha desenvolvendo umas pesquisas na área de paisagem cultural, também tinha a ideia de trabalhar com um rio, um intercurso de paisagem. Então foi que surgiu a ideia de trabalhar com o Rio Belém. Por ser um rio 100% urbano, que nasce e morre em Curitiba e tem uma força histórica ligada a ocupação de nossa região, passa no centro da cidade, então tem uma carga de história e de significados muito forte pra cidade.”
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A ação no Parque São Lourenço foi a mais direta do projeto, em termos de contato com o rio, e teve o intuito de sensibilizar as pessoas sobre as possibilidade de uso do Belém. A condutora do caiaque, a Campeã Brasileira de Canoagem de Descida e Tricampeã Brasileira de Rafting, Ana Carolina Didyk Souza, falou sobre a dificuldade que é praticar canoagem no Parque Náutico do Rio Iguaçu, que fica na foz do Rio Belém e é o único lugar na cidade que há possibilidade de uso para este fim. “Não tem infraestrutura. Você não pode chegar lá e colocar seu caiaque no lago simplesmente. Tem que ir com outra pessoa ou pedir para um guarda municipal ficar olhando enquanto você rema.”
Na opinião de Ana, além da possibilidade de praticar canoagem caso o rio fosse limpo, a ação pode trazer essa reflexão de que o rio poderia ter um uso também lúdico e recreativo, afinal o caiaque também é usado para lazer, além da possibilidade de “pedalinhos” que o rio encerra. Infelizmente muitos parecem não perceber o rio desta forma, como explica Gabriel:
“A gente conversa com as pessoas que moram ao longo do rio e a primeira coisa que elas comentam é o mal cheiro e muitos falam assim “eu não sei porque ainda não fecharam”. Eles acham que a solução para o rio não é melhorar ele, mas desconsiderar como rio, já é esgoto. É canalizar e tampar, porque essa é a relação que as pessoas acham automático ter com o rio hoje em dia.”
No blog dedicado ao projeto é possível acompanhar o andamento das ações que a equipe vem desenvolvendo neste resgate do Rio Belém. O projeto ainda terá outras etapas que serão realizadas até maio. Uma delas prevê o levamento e registro dos pontos significativos de paisagem cultural ao longo do rio. Ao final será lançado um livro com o conteúdo da pesquisa realizada, envolvendo questões ambientais, históricas, geográficas, arquitetônicas e culturais. “Nossa proposta não é só chamar a atenção para a questão ambiental do rio, mas como que toda a cidade incorpora esse rio, como ela quer se relacionar com essa água.”, explicou Maria.
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