Curitibano, Rio Belém mostra a sua cara

Publicado em 19/09/2012
Jornal Gazeta do Povo - Caderno Meio Ambiente
Texto de Katia Brembatti

Canalizado em vários trechos e vítima do despejo de lixo e esgoto, o Rio Belém ainda atrai o olhar do curitibano


A ideia de que um rio pode ser interpretado como patrimônio cultural de uma cidade permeia o projeto Retratos do Belém. Da nascente à foz, o maior rio curitibano foi fotografado e filmado, com destaque para o ambiente urbano que contorna o seu leito. A iniciativa, do arquiteto Gabriel Gallarza, encontrou financiamento pela Fundação Cultural de Curitiba e agora é semifinalista do prêmio de valorização dos recursos hídricos promovido pela Agência Nacional de Águas (ANA).  

A equipe multidisciplinar – formada por historiadores, videomaker, atleta, jornalista, biólogo, geógrafo e urbanistas – buscou interpretar a importância que o rio tem para a cidade. O resultado – em textos, fotos e vídeos – pode ser conferido no endereço eletrônico retratosdobelem.blogspot.com.br. O projeto é finalista também do prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, promovido pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). 

“Um rio não é apenas um patrimônio natural. É também uma representação do modo de vida que está nas margens e contribui para o sentido de identidade e pertencimento”, diz Gallarza. “Como fonte de água para a população, o Rio Belém é um dos principais fatores que levaram à instalação da cidade aqui, neste lugar”, complementa. Para o arquiteto, a relação de identidade do curitibano com o Belém anda enfraquecida. “É um rio que está bastante oculto. Que é lembrado somente nos momentos de chuvas intensas, enchentes e pela poluição”, lamenta. 

Nos 20 quilômetros de extensão – do limite com Almirante Tamandaré até quase São José dos Pinhais – o rio passa por parques, como o Bosque do Papa, o São Lourenço e o Passeio Público. Ele não tem mais o desenho original: foi retificado para se “adequar” à arquitetura urbana, em alguns pontos foi canalizado e há ainda dois quilômetros subterrâneos – escondidos sob algumas das principais ruas centrais da cidade. “Foram tirando dele a terra, o sol e, assim, foram tirando a vida do Belém”, lamenta o arquiteto. Ressurge, a céu aberto, já próximo da Rodoferroviária. Apesar do lixo e das descargas de esgoto, ainda há peixes em um trecho do rio. 

Gallarza acredita que o vínculo entre o rio e a população pode estimular ações de preservação. “O que me deixa mais feliz é perceber que o rio reage. Qualquer ação de melhoria gera resultados notáveis”, comenta. Ele espera ver o Belém ser respeitado e nortear ações de planejamento. “Hoje as canaletas de ônibus são consideradas no zoneamento urbano. Os rios não têm a mesma atenção”, diz. Como testemunha da história de desenvolvimento de Curitiba, o Belém deveria ser credor de mais reconhecimento.

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